Dhamma
nos ensina que tudo, bom ou mau, se origina dentro de nossas mentes – mentes
que tem estado condicionadas por anos (e vidas) de pensamento iludido e
ilusório.
Em tibetano existe uma palavra muito
interessante – nangba – que quer dizer “pessoa de dentro”. É uma forma de
descrever aqueles que procuram dentro de si aquilo que buscam. “Pessoas de
dentro” não estão buscando refúgio em nada que possa ser encontrado do lado de
fora; estão procurando um sentido existencial que só pode ser encontrado
internamente.
Através da sexta etapa do Caminho
Óctuplo – Esforço Correto -, nós nos tornamos “pessoas de dentro”, pessoas que
têm compromisso de fazer o verdadeiro trabalho interno – com energia,
discernimento e amor.
Esforço Correto na verdade, significa
esforço espiritual. Trabalhamos para nos elevarmos, tentando desenvolver
estados mentais mais saudáveis, enquanto buscamos viver de uma forma mais
profunda e completa.
Sócrates (falecimento em 399 aC.) disse:
“A vida não examinada não merece ser
vivida”. Essa frase tocou uma verdade tão profunda que ainda hoje, mais de dois
mil anos depois da morte de Sócrates, as palavras continuam a ressoar. É
preciso um esforço espiritual sincero para examinar nossas vidas e trabalhar em
nosso próprio desenvolvimento.
Através da introspecção e da
contemplação – práticas de atenção plena e da percepção consciente -,
utilizamos a eficiente ciência milenar do despertar espiritual e da
transformação interior.
É certo que não escolhemos nossos
pais, nossos irmãos e nossa família, mas escolhemos nossas associações,
escolhemos onde estar e o que fazer a cada momento, por isso é necessário um
esforço consciente para mudar nossos padrões.
Perceba...
Podemos desenvolver a percepção de nós
mesmos e do mundo de várias formas diferentes. Todas exigem esforço. Quem pode
negar que é necessário coragem para examinar de perto nossos pensamentos e
comportamentos? Não é fácil admitir que agimos por orgulho, inveja e má
vontade, em vez de honrar a nossa natureza desperta. Quem tem coragem, empenho
e cuidado espiritual para encarar esses fatos a seu próprio respeito?
Existem muitas formas de fazer esforço
espiritual e, assim, desenvolver uma vida mais espiritualizada. O que Dhamma
oferece aos buscadores são as técnicas testadas e verdadeiras de meditação, que
passaram de geração em geração durante séculos por mestres iluminados, que
compreendiam que a vida interior determina as experiências que temos na vida.
Em nossa prática, o esforço de
transformação e despertar está ligado à meditação, a qual começa muitas vezes
com a observação da respiração. Isso costuma confundir as pessoas. O que o
crescimento interior e a mudança têm a ver com a respiração, perguntam as
pessoas? O que a mente tem a ver com a respiração? O que a observação da
respiração tem a ver com a transformação espiritual?
Começamos com a respiração porque é um
processo físico, básico, comum a todos nós. Respirar é a nossa conexão com a
própria vida. Todos podemos experimentar isso. A observação da respiração é o
exercício de centralização e de interiorização mais básico possível, algo que
podemos praticar onde quer que estejamos. Inspirar, expirar. Acalma, aquieta,
ajuda a concentrar e a focalizar. Ao observar a respiração nós desaceleramos,
tornando-nos mais reflexivos e contemplativos.
Então,
nesse momento, inspire profundamente. Expire. Relaxe. Solte. Sorria para si
mesmo. Fique à vontade.
A meditação é essencialmente uma forma
de vida. Ela exige esforço para desenvolver a consciência através do treino da
atenção. A meditação não é apenas um programa de ginástica mental. Na arte da
meditação, o segredo é a simplicidade: a simples necessidade de se livrar do
excesso de bagagem e de voltar a busca para dentro.
Hoje em dia todos nós temos uma
mentalidade de café solúvel: o que queremos, queremos já. Basta adicionar água
quente, e pronto. Mas na dimensão espiritual, por mais que se sinta a urgência
do progresso, quanto mais devagar se caminha mais depressa se chega.
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