21 de nov. de 2014

Prática básica de meditação


Começamos inspirando e expirando pelas narinas. Os meditadores inspiram e expiram com atenção. Soltamos o controle do fluxo natural de energia e respiração, e aprendemos a simplesmente deixar as coisas acontecerem. Prestamos atenção a cada inspiração e expiração, acompanhando a respiração – o objeto de nossa atenção durante todo o processo.
Inspire pelas narinas, mantenha o foco e a seguir solte o ar. Faça isso de novo e de novo. Essa é a respiração budista básica. O que poderia ser mais simples ou mais natural? O que poderia ser mais inspirador? Inspirar e expirar, dar e receber, vida e morte. Um grande ciclo que flui incessantemente como as ondas. Preste atenção! Verá que vale a pena. A atenção básica, acompanhada de uma consciência sem críticas e sem escolhas, proporciona liberdade. Solte, deixe estar, seja livre.
Prestar atenção à respiração pode não parecer produtivo imediatamente, mas dê-lhe uma chance. Alguns mestres espirituais fizeram disso a sua prática básica de toda a vida. A atenção à respiração é a prática meditativa fundamental, com poder para atingir e fortalecer todos os níveis de consciência. Pode parecer simples, mas ela trabalha em todos os níveis e certamente não é apenas para principiantes.
Apesar de não ser imediatamente visível, estar totalmente presente no momento presente – que é o que a meditação requer – significa renunciar ao passado, ao futuro e ao dualismo que separa o eu e o outro. Essa é a essência do desapego.
Treinamos desapego soltando a respiração repetidamente, experimentando a sensação de soltar e relaxar um pouco mais a cada expiração. Cada expiração é uma pequena morte, uma pequena renúncia, uma pequena carga que é liberada. Que alívio. Tente!
Como a planta cujas raízes crescem na água, afundamos nossas raízes no sagrado agora, o eterno momento. Dessa forma aprendemos a retirar nosso sustento espiritual do momento presente, o aqui e agora. Esse é o único lugar para estar, o melhor assento da casa. Sente-se nele, como um Buda – Um Ser Desperto.
Inspire profundamente pelas narinas. Acompanhe a expiração. Siga o ar durante todo o percurso. Dissolva-se junto com ele. Enquanto a respiração se dissolve no espaço exterior, nossos conceitos, apegos e cargas são soltos no espaço infinito da consciência. Respiração após respiração - libere os apegos. Pratique soltar um pouco mais a cada expiração. Abandone um pouco mais as tensões físicas e mentais a cada deliciosa expiração. Surfe nas ondas da respiração, deixe as ondas passarem através de você e levarem tudo consigo.
Se surgirem sensações físicas ou sentimentos, mantenha a atenção na respiração e deixe que as sensações se dissolvam. Se surgirem pensamentos – e certamente surgirão -, simplesmente expire e acompanhe a saída do ar até o fim, deixando que eles também se dissolvam e passem. Não entre em cadeias de pensamento discursivo e de análise. Não alimente os motores mentais. Permaneça na atenção básica. Comece de novo a cada inspiração, do zero, com frescor. Cada momento é um novo momento, como a aurora da criação. Esse momento é o único que existe. Cada respiração é nova. Solte o que é velho. Abra espaço para começar de novo e será continuamente renovado.
Inspirando e expirando – de forma rítmica, como as ondas do mar. Soltando, acomodando, aprendendo a ser. Deixe que as coisas se acomodem por si mesmas, em seu ritmo, em seu lugar. Onde quer que elas estejam, deixe que assim seja, sem intervenções nem artifícios. Aprenda a deixar as coisas chegarem e partirem, aprenda a apenas ser. Esse é um passo enorme, uma lição incandescente.
Essa é a arte e a prática da liberdade, a verdadeira prática do desapego.

A visão de uma vasta expansão aberta,
A verdadeira condição da mente,
Como o mar e o espaço:
Sem centro, sem arestas, sem metas.

(Mestre Dzogchen Shabkar Rinpoche)


por Lama Surya Das

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