23 de out. de 2014

Um corpo que vaga pela vida


Na maior parte do tempo estamos perdidos em pensamentos, portanto ausentes do que ocorre no momento presente. E, justamente, este distanciamento, essa não presença da mente junto ao corpo e ao coração no aqui e agora de nossas vidas, causa ou induz a ignorância.
A ignorância só pode surgir quando há ausência de introspecção, ausência de autoconsciência e ausência de autoconhecimento. Se saímos para passear, nosso corpo anda pela rua, um passo depois do outro, e nossa mente está muito longe, revisitando o passado ou preocupada com o futuro. Perceba... Não estamos realmente ali, habitando o nosso corpo, e sabemos quase nada sobre a nossa respiração ou sobre os nossos passos dados na calçada.
Durante a caminhada, nossos olhos podem estar apontados diretamente para um maravilhoso céu azul, mas não reparamos nele, na sua amplidão e beleza, nas suas majestosas nuvens flutuantes – nossos olhos estão embebidos em auto preocupações. Pode ser que um aroma de flores silvestres e jasmins preencha o ar ao nosso redor, mas infelizmente, não o percebemos – sentimos o cheiro do passado e do futuro. Pode ser que dezenas de canários estremeçam de tanto cantar ao calor do sol vespertino, bem á nossa passagem, porém, eles se esforçam em vão, pois nada ouvimos. E, se os ouvíssemos, cem por cento presentes, ali mesmo, ganharíamos asas! Ouvimos apenas ecos passados e futuros, obcecadamente. Nossos olhos podem pousar, de fato, diretamente sobre o sorriso de uma criança de colo que cruza por nós e se torce toda para nos olhar profundamente, com olhos vívidos, deslumbrantes, agarrada a sua mãe. Mas, não vimos sequer a mãe, o que dirá a criança e o sorriso. Perdemos para sempre aquele esplêndido e inimitável sorriso. Pode ser que, enquanto damos um passo, uma brisa acaricie o nosso rosto. A brisa, porém, sopra em vão. Estamos absortos, presos demais a pensamentos compulsivos, incessantes. Nosso rosto, vincado, carrega uma nuvem escura entre as sobrancelhas. Nosso corpo, vagante, semi inerte, lembra um fantasma. Pobre corpo, desértico, árido, seco. Pobre mente, perdida no vale entre o imponderável amanhã e o passado morto. A mente abandonou este corpo, deixando-o oco feito casca. O coração sem a mente é como um prato sem comida, um amor sem companhia, um lar sem alegria.
Estar de corpo presente, pode ser adequado ao dia do nosso velório, mas não para a nossa vida. Viver requer testemunha, presença. Viver requer inteireza, integralidade. Viver requer compromisso e comprometimento. Viver impõe que se habite, more no único momento que nos pertence. Se perdemos o aqui e agora, teremos faltado ao enredo da nossa própria existência.
Passado e futuro podem ser totalmente transformados, resignificados, mas somente a partir do que fizermos, com plena Mente Atenta, no momento presente. Se eu conseguir me tornar livre, pleno e íntegro no momento presente, terei dado um sentido novo a todo o passado, assim como uma direção segura a todo o futuro.
Praticar mente Atenta, manter a mente presente, chegar aqui cem por cento, é o verdadeiro trabalho que temos a realizar nesta vida.

Para restaurarmos a nossa alegria, para restabelecermos o nosso equilíbrio, a nossa saúde, a nossa paz e a nossa sanidade, para tocarmos as maravilhas da vida, precisamos voltar a habitar o momento presente lançando mão do medicamento sutil representado pela Mente Atenta.

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